– Linguagem Popular e Cancioneiro Poveiro – Júlio António Borges (LPCP-JAB)

Linguagem e cancioneiro popular poveiro / Júlio António Borges ; rev. musicológica e tratamento de pautas Luciano Reis da Fonseca. Póvoa de Varzim : Câmara Municipal, 2008.  (ver na  BMPV e  na BN )

—————————

RIMAS INFANTIS

Sola, sapato,
Rei, rainha,
Foram ao mar,
Pescar sardinha,
Para dar ao pai Luís
Preso à ordem do juiz.

Sola, sapato,
Rei, rainha,
Foram ao mar,
Pescar sardinha,
Pr’a mulher do juiz,
Que está presa pelo nariz,
Com as fitas amarelas,
Que lhe cortam as goelas.
Os cavalos a correr,
As meninas a prender,
Qual será a mais bonita,
Que lhe toca a recolher.
p.74-5

Passou um avião
Por cima do mar,
Atirou uma bomba,
Onde foi parar?
p.75

Minhoto, minhoto,
Que levas no goto?
Sardinha assada.
Quem ta assou?
p. 75

O sabouco disse à lampreia:
Fujamos que aí vem a baleia.

-Moreia, da boca feia,
porque comes a isca alheia?
– E tu congro voraz,
porque te cortam o cachaço por trás?

p.76
…………
ABRAÇO

Quero viver e morrer
Num apertado abraço;
Como nas ondas do mar,
Lá vive e morre o sargaço.

p.123
………….
Torradinhas
Vamos ver a lancha nova,
Vamos ver a lancha nova
Que se vai deitar ao mar,
Que se vai deitar ao mar.

Nossa Senhora vai dentro,
Nossa Senhora vai dentro
E os anjinhos a remar
E os anjinhos a remar.

Coro:
Torradinhas eram com manteiga
Torradinhas eram com manteiga
Para o fastio limão
Para o fastio limão
Assim como sou mansinha,
Assim como sou mansinha,
Também quero mansidão,
Também quero mansidão.

Mandei fazer um relógio,
Das pernas de um caranguejo,
Para contar os minutos
E as horas que tão não vejo.
(…)

p.126
………….
BARCO
A nossa lanchinha nova
Foi pescar ao Lameirão,
Pra trazer um peixe-espada,
Só colheu um peixe-cão.

Minha Senhora da Guia
Guiai os homens no mar,
E mais a minha lanchinha
Bem a vedes navegar.
….
Pescador que vais ao leme,
Guia bem o teu navio,
Lá dentro vai o meu amor,
Não lhe dês nenhum desvio.

Ó mar, caixão dos navios,
Ó cama dos marinheiros,
Debaixo da vela grande,
Se aguentam os aguaceiros.

Lá vem um barco à vela,
Lá vem a sardinha boa,
Lá vem o meu amorzinho,
Sentadinho na proa.

No meio daquele mar
Navios à vela vão;
Naquele mais dianteiro,
Navega o meu coração.

Ó meu amor, não embarques,
Nem vás para o navio;
Olha que as ondas do mar,
Não são as ondas do rio.

Meus olhos são dois peixinhos,
Navegam numa canoa,
Choram lágrimas de sangue,
Por uma certa pessoa.

Ter coração sem amor,
É ter noite sem luar;
É ter barco no mar alto,
Sem remos p’ra navegar.

Pega lá nesta laranja,
E tira-lhe o que tem dentro;
Da tona faz um barquinho,
Embarca o teu pensamento.

Lancha vai a toda a pressa
Não precisas (de) passaporte
A fama ninguém ta tira,
Tu és a estrela do norte.

Ó meu barco, ó minha vida
Meu lindo berço, meu norte,
Dê-me Deus a boa estrela,
D’irmos juntos para a morte.

p.136

A Barquinha Feiticeira
p.137
………
CASAMENTO

Meu barquinho, meu cruzeiro
Ó minha vela, meu lar,
Ou eu n ão fico solteiro,
Ou tu não tens de te casar.
p.143
….
CHORO/LÁGRIMAS

Eu hei de ir chorara ao mar,
A chorar lhe hei de pedir,
Para abrandar suas ondas,
E o meu amor sair.

Se vires o mar vermelho,
Não penses que é sagrado;
São as lágrimas de sangue,
Que por ti tenho chorado.
p.145

Ó mar que nas ondas levas,
Um bem que tanto adoro;
Se levas fartura de água
São as lágrimas que choro.

Se pudessem ser contadas,
Formava-se um mar de dores,
Cam as lágrimas choradas,
Pelas mães dos pescadores.

Se fossem pedras as lágrimas,
Que por ti tenho chorado,
Já se fazia uma ponte,
No meio do mar salgado.
p. 146

CORPO
Tenho dentro do meu peito
Duas espinhas de peixe;
Uma me diz que te ame,
Outra diz que te deixe.
p.146

CABELO
Nas ondas do teu cabelo,
Espera que eu vou nadar;
Se o teu cabelo é água,
Para que hei de ir ao mar?

O teu cabelo das fontes
É que me anda a enganar,
Somente os caracóis,
Parecem ondas do mar.
p.147

Corri o mar em roda,
Nas ondas do teu cabelo,
Agora posso dizer
Que corri o mar sem medo.
p. 148

CORAÇÃO
Todo o mar corri à vela,
Sempre de prumo na mão;
Em todo o mar achei fundo,
Menos no teu coração.

Da minha janela à tua,
Do teu coração ao meu,
Deve andar um barquinho
E o navegante sou eu.
p.148

OLHOS

Ando à roda dos teus olhos,
Num girar sem descansar;
Como à roda dos escolhos,
Sem descanso gira o mar.

Mal haja quem deixou,
No mar andarem navios;
Vós fostes os causadores,
Dos meus olhos serem rios.

Os olhos do meu amor
São dois navios de guerra;
Quando vão pelo mar dentro,
Deitam faúlhas p’rá terra.
p.150

Deus fez o Sol e a Lua,
Mais o mar e as estrelas;
Pôs depois na tua face,
Dois lindos olhos p’ra vê-las.

Meus olhos são dois peixinhos,
Navegam numa canoa,
Choram lágrimas de sangue,
Por uma certa pessoa.
p.151

ESTRELAS/ LUA/ LUAR/ SOL

Ó que lindo luar vai,
Para refrescar a sardinha,
O luar vai-se acabando,
Que há de ser da poveirinha?
p.154

Já lá vai o sol abaixo,
Fica a praia descoberta;
Vai-se um amor, fica outro,
Nunca vi fala mais certa.
p.155
…..

FAMÍLIA

Ó mar de variedades,
Eu fui a que variei;
Eu fui a que por amores,
O meu pai e mãe deixei.
p.155

Sou filho de um pescador,
O meu pai morreu no mar,
Agora levo a vida
No terreiro a dançar.
p.156

MÃE

Se pudessem ser contadas…
p.156

FRUTA

Pega lá nessa laranja…
p.163

GEOGRAFIA
Lá se foi o meu amor,
Embarcado pr’o Brasil,
Agora curto saudades,
E tristezas mais de mil.
p.166

HOMEM

Ó mar, tu és um ladrão
Que a todos queres comer;
Não sei como os homens podem,
As ondas do mar vencer.
p.169

Sou pescador, sou poveiro,
Di-lo bem o meu olhar;
Tão sereno como o céu,
Mais profundo que o mar.

A vida de um pescador
É uma vida triste e dura,
Pois toda a vida trabalha,
Em cima da sepultura.

O meu amor é pescador,
Sabe pescar no mar alto;
Puxa a linha de mansinho,
E colhe o peixe de assalto.

Saí cedo a pescar,
Encontrei- te no caminho,
Premdi- me no teu olhar,
Como na rede um peixinho.

Eu pesquei o meu amor
Com a rede da sardinha;
Nem o peixe mais esperto,
Sai da malha miudinha.

Tem cautela, pescador,
Com o mar que te enleia,
Olha que o mar, no seu cantar,
Tem atraição da sereia.

Fui ao mar caçar um peixe,
Logo cresceu a maré;
As tuas falas são doces,
Mas nelas não tenho fé.

Moro à beira do mar,
Moro mesmo à beirinha;
Da janela do meu quarto,
Vejo pescar a sardinha.

P.209

Comentar